A missão da igreja no novo século é cumprir o Ide de Jesus atenta às transformações do tempo
Quando estudamos sobre a missão da Igreja no mundo, observamos que é uma missão simples e gloriosa. O evangelista Marcos definiu bem o que Jesus falou sobre essa missão: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura”. O que entendemos nessa ordem é que a Igreja deverá ir por todo o mundo e existe uma finalidade para isso. Atingirmos o mundo tem como fim principal executarmos a propagação do Evangelho do Senhor Jesus. Não é um evangelho próprio, da forma que queremos pregar, é o Evangelho de Jesus. Sobre esse Evangelho, falou o apóstolo Paulo: “Porque não me envergonho do evangelho de Jesus Cristo, pois é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”, Rm 1.16. A missão da Igreja não mudou. Continua a mesma. Isso porque o Evangelho é o mesmo. O Evangelho de Jesus não muda, então a missão da Igreja também não muda.
Devemos ter cuidado é com os métodos de evangelismo, pois estes, sim, sofrem mudanças importantes de acordo com as mudanças dos tempos. Não podemos evangelizar nos dias de hoje como evangelizávamos 20 ou 30 anos atrás. Não dá certo. Os métodos deverão ser outros, senão não conseguiremos atingir os nossos objetivos com o nosso trabalho.
Estamos vivendo em um ponto decisivo da História. As mudanças em nossos dias são radicais e importantes. As coisas mudam com tanta rapidez que as únicas organizações que sobreviverão são aquelas cujo gerenciamento acompanhará as mudanças necessárias estabelecidas por este novo tempo.
Transformações
Com as mudanças dos tempos, está ocorrendo uma grande transformação em vários aspectos, que nos forçam mudar as estratégias no nosso campo de ação. Entre essas, destacaremos algumas:
1) Internacionalização – Devido às emergências da ideia global, a internacionalização facilita a comunicação. Em um só instante, descobrimos o que acontece em todo o mundo. Outro ponto importante da internacionalização é a migração de imensa quantidade de pessoas, que traz para a igreja uma série de implicações, e não só para a igreja, mas para a sociedade como um todo.
2) Urbanização – Segundo as estimativas, neste século, 50% da população mundial habitarão nas cidades, entre as quais 17 terão mais de dez milhões de habitantes, sendo sete delas no mundo mulçumano. A pobreza e a fome agora são maiores do que nunca na história da humanidade. Alguns sugerem que 900 milhões de pessoas serão pobres nesta época, 100 milhões das quais em pobreza absoluta. O desafio para o movimento missionário será tão esmagador que as missões terão de ser, por assim dizer, reinventadas. Se a Igreja deseja conquistar esta geração, precisa encontrar um jeito de manter apegada à verdade que mantém a nossa fé coesa, e ainda criar maneiras de responder às perguntas levantadas por uma geração esvaziada de conteúdo cristão. A demonstração de amor e do caráter transformador do Evangelho é a necessidade gritante desta hora.
3) Tecnologia – O mundo está sendo gerenciado pelo homem que usa a tecnologia como ferramenta de trabalho. O problema é quando o homem se deixa escravizar por ela. Não é muito fácil ser um cristão em uma era tecnológica, porque é necessário domínio próprio para não se deixar dominar por ela, pois o uso excessivo pode resultar numa imensa solidão. Hoje, se passa mais tempo com as máquinas do que com as pessoas. A comunicação é muito mais eletrônica, exigindo do homem um esforço para não se tornar impessoal e vazio. Veja o que diz a Bíblia em João 1.14: “O verbo se fez carne e habitou entre nós”. A Igreja é composta por aqueles que foram transformados. A vida congregacional é composta por gente que se relaciona com Deus e com as pessoas. Portanto, a Igreja televisiva e eletrônica não pode substituir a vida congregacional, porém pode ser usada como meio de divulgação do Evangelho e como uma segunda opção para aqueles temporariamente impossibilitados de chegarem à congregação.
4) Individualismo – Estamos vivendo uma época semelhante àquela por que passaram os israelitas na época dos juízes, em que cada um fazia o que era reto aos seus olhos, e veja que os resultados foram trágicos. Estamos repetindo o mesmo erro. Hoje, é cada um por si. Isso tem um refl exo direto na família. A família de hoje que não tem tempo para a comunicação pessoal, que não tem tempo para fazer as refeições junta, tem sido uma família fraca, sem base, sem raízes sólidas e, pior, muitas dessas famílias têm fracassado diante do individualismo, deixando de existir. A missão da Igreja junto às famílias é de uma importância tão grande que se não cuidarmos desse assunto, nossas igrejas também se tornarão vazias de afeto e relacionamento. Isso pode trazer uma derrocada moral, onde os bancos das nossas igrejas poderão se tornar testemunhas de pessoas cujas vidas estão distorcidas pelas consequências dos seus próprios pecados e pelas transgressões dos outros.
5) Qualidade de vida decrescente – Uma nova classe de pobres marginalizados no mundo de hoje é formada por mães solteiras, tornando maior a pobreza, e ninguém tem a solução para esse problema. Ainda convivemos com o aumento da violência, do crime, da instabilidade social, e o resultado é uma cultura pessimista. A moralidade decresce, o conflito aumenta, a solidão se intensifica, as famílias desintegram-se, o crime e a pobreza aumentam e a geração em formação tem poucas esperanças. Choro por dentro ao estudar essa matéria, pensando exatamente no que a Igreja deve fazer para minimizar essa situação que conta com uma demanda tão intensa. Que Deus nos ajude!
Crise
A nossa situação cultural de hoje representa uma crise, diante da qual levantemos duas questões cruciais:
1) De que forma realizamos a evangelização hoje em dia?
2) Como conseguimos transmitir o Evangelho a um mundo pós-moderno? Há uma grande diferença entre hoje e 100 anos atrás. Naquela época, as pessoas estavam adormecidas e não havia uma negação generalizada das verdades cristãs.
As pessoas estavam dependendo apenas de um toque que viesse despertá-las e incitá-las. Hoje, a fé em Deus praticamente desapareceu, o homem normal acredita que toda essa crença em Deus, na religião e na Salvação, esteve incubada na natureza humana por séculos. Já não é mais uma questão somente de imoralidade. A sociedade se tornou amoral. A própria categoria da moralidade não é reconhecida. Boa parte da sociedade não é apenas imoral; não existe moral.
Missão
Mais do que nunca, precisamos estar atentos para a forma de alcançarmos o mundo que está mergulhado num sistema cego e destruidor, e que mata rapidamente se não houver quem o resgate. Porém, não é de qualquer maneira que a Igreja vai conseguir isso. É mais difícil do que se pensa, não é apenas chegar e pregar; é ter consciência da responsabilidade que a Igreja tem e levar a sério essa realidade, seguindo passos importantes, dos quais sugiro alguns:
1) Não perder a identidade – O ponto inicial de fazer missões neste século é manter a identidade. Com o Evangelho fácil que tem chegado ao mundo nos dias de hoje, muitas igrejas estão iguais ao mundo. “Venham como estão e permaneçam do mesmo jeito”. Quando o mundo olhar para a Igreja e vê-la de forma igual a ele, a Igreja terá deixado de ser referência para ser mais uma organização igual às demais. A Igreja tem que ser diferente para manter a ordem no mundo; se ninguém consegue, a Igreja deverá conseguir. O mundo precisa urgentemente de mudanças principalmente na ordem espiritual, e a Igreja é a única referência.
Muitos líderes sem preocupação com as almas encenam uma “compaixão”, e fazem todo tipo de representação para conquistarem as pessoas, e até conseguem, mas o que observamos é que com a mesma rapidez que crescem, também acabam.
A Igreja de Cristo não veio para mudar a realidade do mundo, e deverá continuar assim até a Volta do Senhor. Estamos no mundo, mas não somos do mundo, somos diferentes e a nossa identidade não pode ser trocada. Custe o que custar, a Igreja precisa continuar sendo a referência.
2) Ter estratégias definidas – A forma de evangelização não é a mesma para todos os lugares. A Igreja precisa conhecer bem as culturas de onde ela pensa entrar. Cada lugar tem uma cultura diferente. Mesmo sendo próximos. A cultura diferencia um lugar do outro. As concentrações que fazíamos anos atrás já não estão mais funcionando em muitos lugares. Foi necessária a evangelização pessoal. E hoje, o homem tem se tornado solitário e demasiadamente ocupado, a ponto de encontrar-se com a família apenas uma vez por semana. A estratégiatem que mudar.
Devemos entrar nas faculdades, e para isso a Igreja necessita de mão de obra qualificada. Precisamos entrar nas Forças Armadas, e para isso a Igreja deve aproveitar bem os seus membros que ali se destacam. A Igreja deverá entrar na política, e para isso deverá preparar bem os seus representantes para que não envergonhem o Evangelho e sejam canais de salvação para os seus pares. E os menos favorecidos? A preocupação com eles é dobrada. Como evangelizar os pobres sem uma boa Secretaria de Ação Social? Haverá sempre necessitados conosco, a assistência social glorifica o nome de Jesus e mantém o trabalho da Igreja. Veja que, na hora de pregar, Jesus pregava; na ora de ensinar, Jesus ensinava; e na hora da necessidade, Jesus atendia, ainda que para isso tivesse que fazer milagre como foi o caso da multiplicação dos pães e peixes. Usemos de todas as formas corretas possíveis para conquistar o mundo.
3) Manter a união – Entendemos bem agora o porquê da recomendação do Salmo 133: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”. Não podemos trabalhar com a visão de cada um por si. É necessário trabalharmos em parceria. A Bíblia diz que um reino dividido não prospera. Devemos unir as nossas forças em prol da obra de Deus ou, ao contrário, estaremos fadados à derrota. Precisamos aprender a dialogar e compartilhar projetos, e assim aprender uns com os outros tanto nos acertos como também nos erros.
4) Manter a unção – O inimigo tem se levantado de uma forma muito terrível com o fim de se opor aos santos e destruir as pessoas antes que elas tenham um encontro com Jesus. E em alguns momentos ele tem conseguido êxito no que diz respeito a destruir pessoas, visto que ele veio para matar e destruir, como diz a Bíblia.
A única forma de neutralizá-lo é tomando os espaços e terrenos de que ele tem se apropriado, e isso não se consegue com mensagens frias e sem ousadia. Apesar de ser a favor de faculdades teológicas e defensor delas, digo: não devemos nos enganar, os cursos servem para um preparo melhor no âmbito teológico, mas não concedem poder para enfrentar o arquiinimigo da Obra de Deus. Existem muitas mensagens bonitas, recheadas de técnicas, fruto de anéis, diplomas e internet, porém vazias da unção, que é mais importante. A Igreja não pode abrir mão da unção de Deus, presente nesse importante trabalho.
5) Discipular – Quando o evangelista Lucas escreveu o livro dos Atos dos Apóstolos, logo no início ele relatou ao seu amigo Teófilo que havia escrito o primeiro tratado exatamente acerca daquilo que Jesus tinha feito e ensinado. O próprio Jesus recomendou pregar e ensinar. Os membros de nossas igrejas, e principalmente os nossos obreiros, precisam sempre de uma reciclagem e, para isso, os nossos líderes devem estar preocupados em fazer simpósios, palestras, encontros, capacitação etc. Não podemos mais perder tempo. O tempo chegou e é agora.Feliz a igreja que cumpre a sua missão com efi cácia e inteligência!
Aqui mesmo, no Brasil, em todas as nossas cidades, há um número maior de desviados do que de membros em nossas igrejas, e isso é uma prova de que alguns de nós estamos pregando muito e ensinando pouco. Preparemos, pois, o nosso povo para a batalha, dando-lhes as armas necessárias para o combate e preparando-os psicologicamente, moralmente e principalmente espiritualmente.
6) Conquistar – O apóstolo disse: “Fiz-me de tolo para ganhar os tolos e de sábio para ganhar os sábios”. Tudo o que a Igreja puder fazer para conquistar as almas para Cristo deve ser feito com urgência. O mundo espera pela Igreja, temos terreno a conquistar tanto em Jerusalém, Judéia e Samaria como até os confi ns da Terra. Devemos colocar as nossas armas de conquista em funcionamento para que tenhamos, neste século, o maior número de vidas salvas pelo sangue de Jesus Cristo.
A nossa Igreja está completando o seu centenário. Espero sinceramente que os nossos movimentos festivos alusivos ao nosso aniversário não sirvam apenas para ajuntamento de pessoas, mas, sim, para que haja uma conscientização do que é necessário para o nosso crescimento numérico, mas principalmente espiritual, e que a nossa Igreja seja sacudida pelo poder de Deus e despertada para as urgências que aqui foram tratadas. Este é o nosso tempo, o tempo em que o Senhor faz a revista no seu exército, visto que a batalha está renhida e os nossos soldados devem estar prontos para a guerra.
Maior é o que está conosco do que aquele que está com eles. Firme e avante – a sua obra terá uma recompensa. Amém!
José Antonio dos Santos é pastor, líder da Assembleia de Deus em Alagoas e da União de Ministros das ADs no Nordeste (Unemad), escritor e 5º vicepresidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB).